Botox NÃO TRATA Bruxismo

Nas últimas décadas, a toxina botulínica (Botox foi a primeira marca) foi progre

ssivamente introduzida na área da saúde. Porém, poucos estudos existem ao respeito do seu uso para tratar o bruxismo.

Na odontologia, a aplicação da toxina botulínica é um tratamento off-label já que não existem indicações

para esta área, nem protocolo clínico de aplicação, estandardização da dosagem, ou consenso nas indicações de diluição.

Embora a toxina possivelmente consiga diminuir alguns dos sintomas subjetivos do bruxismo do sono (BS) como a rigidez e dor mandibular matutinos, ela não diminui o número de eventos de BS. Isso pode ser explicado pela fisiologia do BS, onde os episódios estão baixo a influência do sistema nervoso central (SNC) e não dos músculos ou do sistema nervoso periférico (SNP). Pelo tanto, a toxina parece influenciar apenas na última fase do BS, diminuindo a intensidade da contração, porem sem efeito nenhum sobre seu surgimento.

Estudos in vitro demonstraram que injeções da toxina nos músculos da mastigação produzem perda nas regiões condilar e alveolar da mandíbula, diminuindo o desempenho mastigatório e

provocando possíveis alterações no crescimento craneomandibular, mesmo após uma única injeção! Por outro lado, estudos clínicos nos alertam em direção à necessidade de uma avaliação sobre possível aumento no risco de osteopenia ou fratura da mandíbula como consequência de múltiplas aplicações da toxina.

Alias, é bom destacar que o uso off-label de alguns medicamentos pode ser escolhido baixo a responsabilidade do profissional no caso de doenças raras e sem outra opção de tratamento. Porém, no caso do BS a placa interoclusal é a opção mais conservadora e efetiva para tratar as consequências do BS e igual de efetiva que a toxina para diminuir a intensidade da dor, porém sem seus efeitos adversos. Notem que estou me referindo ao uso da placa no

BS primário, já que o secundário melhora ao tratar o distúrbio que o origina.

Diante destas informações podemos disser que a ciência ainda não comprovou a efetividade e o impacto da toxina botulínica para o tratamento de bruxismo e pelo tanto, sua aplicação para estes casos considera-se um tratamento experimental com o paciente.

Fonte: - De la Torre Canales G. et al. (2020) Efficacy and safety of botulinum toxin type A on persistent myofacial pain: A randomized clinical trial. Toxins Journal.

- De la Torre Canales G. Barboza Câmera -Souza M., Fraga do Amaral C., Rodrigues Garcia R.C.M., Manfredini D., (2017), Is there enough evidence to use botulinum toxin injections for bruxism management? A systematic literature review. Clinical Oral Investigations.